Antes de dar um passo importante em minha vida
Sem título
Em uma remota ilha japonesa, um senhor idoso está sentado em uma pedra observando atentamente o rio que passa a sua frente. Um turista perdido – mochila nas costas, calçados apropriados para trilhas, óculos de sol – para um instante, admira a cena à sua frente e, tentando estabelecer uma comunicação por meio de seu japonês arranhado, pergunta ao homem:
- Desculpe-me, me perdi e não consigo encontrar o caminho de volta...
- Tudo bem, jovem rapaz. Volte até a pedra cinza e vire à esquerda.
- Obrigado. Desculpe a intromissão, mas o que o senhor faz aqui?
- Observo o rio. Seus peixes, pedras, folhas, galhos caídos das árvores. Vejo todos eles passando e consigo identificar cada coisa que passa pelo curso do rio pois, venho observando-o há décadas, e o conheço bem.
- É muito tempo... E quantas vezes o senhor nada por aqui e aproveita toda essa beleza? Se eu morasse aqui, certamente seria minha parada obrigatória.
- Está louco? Com todo esse lixo, galhos, pedras pontiagudas e perigosas que vejo passar por aqui todos os dias? Sinto-me muito bem em apenas observar e aprender com os erros alheios.
- Então você passou a vida toda assistindo, ao invés de tirar proveito de toda essa maravilha que te cerca? Reclamou do lixo no curso do rio, mas nunca fez nada para impedir que o poluíssem? Falou dos galhos que acidentalmente caem da copa das árvores, mas jamais subiu em árvore alguma e tampouco sentiu a emoção da escalada, da conquista do topo, da vitória... Não entendo como vive aqui há tanto tempo, sem experimentar emoções boas (e consequentemente, as ruins) que a vida nos dá de presente todos os dias? Não entendo como o senhor consegue viver tanto...
Depois de fazer uma rápida análise de sua vida até aquele momento, tendo o rio como único companheiro, olha fixamente para seu reflexo envelhecido refletido nas águas cristalinas. Suspira vagarosamente, e enquanto o turista se afasta, acenando as mãos em forma de adeus, pensa consigo mesmo:
- Nem eu...
24/02/2011