sábado, 12 de março de 2011

Post sem título


Galera, há muito tempo atrás, lá pelo final da década de 90, eu costumava escrever, o que minha professora de português chamava de textos não-versados - o que na minha visão era, e ainda é, só um monte de bobagem no papel. Me pediram para que eu enviasse os textos para publicações, campeonatos estaduais, blá blá blá, mas nunca senti vontade para esse tipo de coisa.
Antes de dar um passo importante em minha vida e mandar a facul para o espaço, eu rabisquei um desses textos. Apresento-lhes o resultado...

Sem título

Em uma remota ilha japonesa, um senhor idoso está sentado em uma pedra observando atentamente o rio que passa a sua frente. Um turista perdido – mochila nas costas, calçados apropriados para trilhas, óculos de sol – para um instante, admira a cena à sua frente e, tentando estabelecer uma comunicação por meio de seu japonês arranhado, pergunta ao homem:
- Desculpe-me, me perdi e não consigo encontrar o caminho de volta...
- Tudo bem, jovem rapaz. Volte até a pedra cinza e vire à esquerda.
- Obrigado. Desculpe a intromissão, mas o que o senhor faz aqui?
- Observo o rio. Seus peixes, pedras, folhas, galhos caídos das árvores. Vejo  todos eles passando e consigo identificar cada coisa que passa pelo curso do rio pois, venho observando-o há décadas, e o conheço bem.
- É muito tempo... E quantas vezes o senhor nada por aqui e aproveita toda essa beleza? Se eu morasse aqui, certamente seria minha parada obrigatória.
- Está louco? Com todo esse lixo, galhos, pedras pontiagudas e perigosas que vejo passar por aqui todos os dias? Sinto-me muito bem em apenas observar e aprender com os erros alheios.
- Então você passou a vida toda assistindo, ao invés de tirar proveito de toda essa maravilha que te cerca? Reclamou do lixo no curso do rio, mas nunca fez nada para impedir que o poluíssem? Falou dos galhos que acidentalmente caem da copa das árvores, mas jamais subiu em árvore alguma e tampouco sentiu a emoção da escalada, da conquista do topo, da vitória... Não entendo como vive aqui há tanto tempo, sem experimentar emoções boas (e consequentemente, as ruins) que a vida nos dá de presente todos os dias? Não entendo como o senhor consegue viver tanto...
Depois de fazer uma rápida análise de sua vida até aquele momento, tendo o rio como único companheiro, olha fixamente para seu reflexo envelhecido refletido nas águas cristalinas. Suspira vagarosamente, e enquanto o turista se afasta, acenando as mãos em forma de adeus, pensa consigo mesmo:
- Nem eu...

24/02/2011
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